domingo, 31 de maio de 2009

ATAQUE SOB A VERDADE DE DEUS

Referência: Filipenses 3.1-11

INTRODUÇÃO

No primeiro capítulo de Filipenses Paulo mostrou a supremacia de Cristo (Fp 1.21). No segundo capítulo ele mostrou a primazia do outro (Fp 2.4). Agora, no terceiro capítulo, Paulo volta sua atenção para a questão da verdade que estava sendo atacada pelos falsos mestres.

Mais do que nunca este texto é atual, oportuno e urgente. Também em nossos dias a verdade de Deus tem sido atacada. Esses ataques não vêm apenas dos insolentes críticos da fé cristã, mas daqueles que se infiltram na igreja, com falsa piedade e perigosas e heresias. Estamos vendo, com profunda dor, a igreja evangélica brasileira deixando o Antigo Evangelho, o evangelho da cruz, para abraçar um evangelho híbrido, sincrético e místico. Um evangelho centrado no homem e não na consumada e bendita obra de Cristo. Precisamos também nos acautelar!

1. A alegria cristã é centrada em Cristo (3.1)
J. A. Motyer diz que a ordem de Paulo dada em Filipenses 3.1: “... alegrai-vos no Senhor”, age como uma ponte entre o que ele ensinou e o que ele está para ensinar. Jesus foi glorificado como Deus, Salvador, Exemplo e Senhor. Portanto, devemos nos regozijar nele. Ele deve ser nosso prazer, nossa mais preciosa possessão e nossa mais intensa ambição.

Assim, depois de falar sobre relacionamentos no capítulo dois, e antes de introduzir o novo assunto, Paulo reafirma para a igreja o tema básico desta carta, a alegria. A alegria cristã não é ausência de problemas nem circunstâncias favoráveis. A alegria cristã está centrada não em coisas ou situações, mas na Pessoa de Cristo. Ele é a nossa alegria. Nossa alegria é cristocêntrica!

Bruce Barton diz que essa verdadeira alegria nos capacita a vencer as ondas revoltas das circunstâncias adversas, porque essa alegria vem de um consistente relacionamento com o Senhor Jesus.

2. A repetição é um poderoso recurso pedagógico (3.1)
Paulo não está trazendo ensino novo, mas reafirmando as mesmas verdades. E ele diz que isso não lhe desagrada, pois sabe da necessidade da igreja ouvir sempre as verdades fundamentais do evangelho. Sabe, também, que isso produz segurança para a igreja. Não devemos correr atrás de novidades, mas firmarmo-nos cada vez mais no Antigo Evangelho. A verdade deve ser o nosso pão diário.

William Barclay corretamente diz que os alimentos essenciais não nos cansam; esperamos comer pão e beber água cada dia da nossa vida. Por isso também devemos escutar sempre de novo a verdade que é pão e água para a vida. Que nenhum mestre se inquiete por voltar renovadamente às grandes verdades básicas da fé cristã.

I. OS FALSOS MESTRES DESMASCARADOS (3.2)

1. A necessidade de cautela acerca dos falsos mestres (3.2)
Por três vezes o apóstolo Paulo repetiu o verbo grego blepete: “Acautelai-vos”. Essa palavra é extremamente forte e sua repetição carrega uma forte ênfase. Ele quer que a igreja mantenha seus olhos abertos e seja vigilante para que esses lobos não entrem no meio do rebanho (At 20.29,30). A heresia tem muitas faces, mas seu veneno é sempre mortal.

2. A necessidade de identificar os falsos mestres (3.2)
O apóstolo Paulo descreve esses falsos mestres, dando-lhes três adjetivos (cães, falsos obreiros e falsa circuncisão), porém, é muito provável que ele esteja falando do mesmo grupo com nuances diferentes. William Hendriksen chega mesmo a ser categórico: “Paulo tem em mente uma única espécie de inimigo, e não três tipos diferentes. Ele se refere apenas a um único inimigo: a mutilação em contraste com a circuncisão”.

F. F. Bruce diz que as pessoas contra quem os gentios cristãos deveriam permanecer em guarda, e a quem Paulo denuncia noutras passagens, usando o mesmo tipo de palavreado contundente empregado aqui, são as que visitavam as igrejas gentias e insistiam em que a circuncisão era condição essencial, indispensável para serem justificados perante Deus.

Esses mestres judaizantes queriam inserir na mensagem do evangelho a obrigatoriedade da circuncisão como condição indispensável para a salvação (At 15.1). Assim, a salvação deixava de ser pela fé somente e passava a depender do esforço humano. Os judaizantes atacavam a doutrina da salvação unicamente pela graça pela base e tratavam de substituí-la por um misto de favor divino e mérito humano, com ênfase sobre este último. Paulo, mesmo sob algemas, não cala sua voz. Ele denuncia e desmascara esses mestres com veemência como já havia feito outras vezes (Gl 1.6-9; 3.1; 5.1-12; 6.12-15; 2Co 11.13).

Que descrição Paulo faz desses falsos mestres?

Em primeiro lugar, os falsos mestres são cães. Ralph Martin diz que os cães eram considerados animais imundos na sociedade oriental. Werner de Boor ainda diz que no antigo Oriente o cão não era o companheiro fiel e amado do ser humano, mas um animal semi-selvagem que vagueava em matilhas, caçando presa aos latidos. É assim que Paulo vê seus adversários metendo o nariz e latindo suas heresias em todas as regiões.

Cães ainda é o termo com que os judeus tratavam os gentios. Eles os consideravam indignos e abomináveis. Eles viam os gentios apenas como combustíveis do fogo do inferno. Agora, porém, Paulo inverte os papéis e se refere aos falsos mestres como cães, ou seja, aqueles que viviam perambulando ao redor das igrejas gentias, tentando “abocanhar” prosélitos, ganhar novos adeptos para seu modo de pensar e viver (Mt 23.15).

No tempo de Paulo esses mestres judaizantes eram como cães, como os animais imundos que vagavam pelas ruas latindo e rosnando a todos que encontravam, revirando o lixo e atacando os transeuntes. Paulo usa essa metáfora para se referir a esses falsos mestres como insolentes, astuciosos e vadios que procuravam se infiltrar nas congregações cristãs para espreitarem a liberdade dos novos crentes (Gl 2.3-8). Warren Wiersbe diz ainda que esses judaizantes mordiam os calcanhares de Paulo e o seguiam de um lugar para outro ladrando suas falsas doutrinas. Eram agitadores e infectavam as vítimas com idéias perigosas.

Em segundo lugar, os falsos mestres são maus obreiros. Eles são obreiros da iniqüidade (Lc 13.27) e obreiros fraudulentos (1Co 11.13). Ralph Martin os chama de emissários gnósticos cristão-judeus, armados com um objetivo propagandístico de arrebanhar os convertidos através do ministério de Paulo, induzindo-os a crer na necessidade de circuncisão.

William Hendriksen diz que eles eram maus obreiros porque, em vez de cooperarem para a boa causa, a prejudicavam. Desviavam a atenção de Cristo e de sua redenção perfeita e a fixavam em rituais ultrapassados e em obras humanas. Eles trabalhavam contra Deus e para desfazerem a obra de Deus. Eles laboravam para o erro e para desviarem as pessoas da verdade. Para esses mestres judaizantes, agir com justiça era observar a Lei e seguí-la em seus múltiplos detalhes e cumprir suas inumeráveis regras e prescrições. Mas Paulo estava seguro de que a única classe de justiça que agrada a Deus consiste em render-se livremente à sua graça.

Em terceiro lugar, os falsos mestres são defensores da falsa circuncisão. A palavra grega para circuncisão é peritome, mas Paulo se recusou a usá-la aqui; em vez disso, usou a palavra grega katatome, usada para descrever a mutilação da carne nos ritos pagãos. Muito embora não havia nada de errado com a circuncisão em si, Paulo sustentou que era errado ensinar que a circuncisão era uma condição indispensável para a salvação. Nesse sentido a circuncisão havia se tornado um rito vazio e sem sentido.

Os mestres judaizantes trocaram a graça de Deus por um rito físico. Eles se vangloriam de uma incisão na carne em vez de uma mudança no coração. Eles cortavam o prepúcio do corpo, porém não do coração. Paulo escarnece dessa falsa confiança deles no rito da circuncisão em vez de confiarem na graça de Deus.

William Barclay diz que esses dois verbos gregos embora muito semelhantes: Peritemnein, que significa “circuncidar”; katatemnein, que significa “mutilar” descrevem duas coisas bem diferentes. Enquanto o primeiro verbo descreve o sinal sagrado e o resultado da circuncisão; este último, katatemnein, que foi o termo usado por Paulo para descrever os falsos mestres, descreve a mutilação própria que se proibia, como a castração e coisas semelhantes (Lv 21.5). Assim, Paulo diz para esses arrogantes hereges que eles não estavam circuncidados, mas apenas mutilados (Gl 5.12). Se tudo o que eles tinham para mostrar era a circuncisão da carne, uma marca física, então, realmente, não estavam circuncidados, mas apenas mutilados. Porque a circuncisão real é a consagração a Deus do coração, da mente, do pensamento e da vida.

A circuncisão foi instituída por Deus como símbolo do seu pacto com Abraão (Gn 17.9,10) e Paulo interpretou a circuncisão como o selo da justiça da fé (Rm 4.11-13) e disse que o sacramento do batismo substituiu esse rito judaico (Cl 2.11-13). O próprio Antigo Testamento já ensinava sobre o princípio espiritual desse rito, falando da circuncisão do coração (Dt 10.16), dos ouvidos (Jr 6.10), e dos lábios (Ex 6.20). O apóstolo Paulo diz que só a circuncisão do coração torna alguém espiritualmente judeu (Rm 2.28,29). Somente aqueles que crêem são filhos espirituais de Abraão (Gl 3.29).

William Hendriksen corretamente exorta: “O conceito de que Deus ainda hoje, reconhece dois grupos favoritos – de um lado a igreja e do outro os judeus – é completamente antibíblico.

II. O POVO DE DEUS IDENTIFICADO (3.3)

Assim como Paulo fez uma tríplice descrição dos falsos mestres, também faz uma tríplice identificação do povo de Deus. Os falsos mestres queriam tornar o cristianismo uma seita judaica. Eles ensinavam que a salvação dependia da circuncisão, anulando, assim, a suficiência do sacrifício de Cristo. Eles pregavam que a graça de Deus não era suficiente para a salvação e que o homem tinha que concorrer e cooperar com Deus nessa obra, circuncidando-se. Paulo refuta vigorosamente essa heresia, mostrando que a verdadeira circuncisão não é aquela feita na carne, mas a circuncisão do coração, operada pelo Espírito Santo de Deus. A igreja, e não os falsos mestres, é que possui a verdadeira circuncisão. Paulo diz: “Porque nós é que somos a circuncisão...” (3.1).
Como Paulo descreve o povo de Deus?

1. O povo de Deus é identificado pela adoração (3.3)
A questão não é adoração, mas a quem ela é prestada e de que forma. A igreja adora a Deus e o faz mediante a ação do Espírito Santo. Toda adoração que não é prestada a Deus é idolatria; toda adoração oferecida a Deus sem a ação do Espírito não lhe é aceitável.

A palavra grega para “adoração”, latreia, bem como o verbo “adorar”, latreuo, têm um uso exclusivamente religioso no Novo Testamento. Ambas enfatizam que não podemos divorciar o culto que prestamos no templo com aquele que prestamos com a vida, fora do templo.

É perfeitamente possível que alguém seja capaz de observar meticulosamente todas as práticas externas da religião e ao mesmo tempo esteja abrigando em seu coração a amargura, o ódio e o orgulho. Os fariseus estavam na sinagoga reprovando a Jesus porque ele curou o homem da mão ressequida no sábado, mas não atentaram para o fato de que na mesma sinagoga eles estavam cheios de ódio tramando a morte de Jesus. Eles pensavam que estavam na sinagoga adorando, mas o culto deles não era movido pelo Espírito Santo.

2. O povo de Deus é identificado pela centralidade da sua vida em Cristo (3.3)
O povo de Deus aprecia plenamente quem Cristo é o que Cristo fez e nele tem toda a sua exultação. O povo Deus não se gloria na carne nem em ritos religiosos, mas em Cristo. O seu prazer, sua vida e sua confiança estão em Cristo. O bendito Filho de Deus é a nossa vida (Fp 1.21), o nosso exemplo (Fp 2.5), o nosso alvo (Fp 3.12-14) e nossa força (Fp 4.13).

Gloriar-se em Cristo é ter nele todo o prazer e deleite. Ele nos é suficiente. Ele nos satisfaz plenamente. O povo de Deus se gloria na cruz de Cristo, isto é, em sua expiação, como a única base para sua salvação. O Senhor é o objeto da exultação dos crentes. Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor (1Co 1.31; 2Co 10.17).

3. O povo de Deus é identificado pela sua decisão de não confiar na carne (3.3)
Segundo Werner de Boor a palavra “carne” aqui representa toda a religião produzida pessoalmente nas profundezas do coração e do estado de espírito. Essa “carne” pode ser sempre reconhecida no fato de que o ser humano continua voltado sobre si mesmo, confia em si mesmo e se gloria em si mesmo. “Carne” é sua natureza centrada em si mesma. Mesmo quando exerce a moral e a religião, o ser humano fica preso a seu eu, cultiva e gloria-o, até mesmo quando cita o nome de Deus.

Os falsos mestres estavam confiados na carne, em rituais, em cerimônias externas, em realizações humanas. Mas, a igreja é um povo que põe sua confiança em Deus e sua fé na Pessoa bendita de Jesus Cristo. O cristianismo não é aquilo que nós fazemos para Deus, mas o Deus que Deus fez por nós. Não confiamos no que fazemos ou deixamos de fazer, mas no que Deus fez por nós em Cristo Jesus.

III. O TESTEMUNHO DE PAULO ANUNCIADO (3.4-6)

1. Os privilégios de Paulo (3.4,5)
O apóstolo está fazendo um contraste entre ele e os falsos mestres que confiavam na carne. Ele está argumentando que ele teria muito mais razões para confiar na carne do que eles. E, então, passa a listar seus privilégios como judeus. Ele mostra a esses falsos mestres de plantão as suas credenciais. Ele não o faz para jactar-se, mas para mostrar que sabia o que era seu judeu e deliberadamente abandonou esses predicados por causa de Jesus Cristo. Que privilégios eram esses?

Em primeiro lugar, privilégio eclesiástico: ele era circuncidado ao oitavo dia (3.5). Ele não era um judeu prosélito; ele nasceu judeu e era um membro da raça que havia recebido o rito da circuncisão no tempo estabelecido pela lei (Gn 17.12; Lv 12.3). Com essa expressão Paulo diz que não é um descendente de Ismael que foi circuncidado aos treze naos (Gn 17.25) nem um prosélito que recebia a circuncisão depois de adulto, mas alguém que nasceu na mais pura fé judaica. Nesse sentido Paulo excedia aos judaízes.

Em segundo lugar, privilégio de nacionalidade: ele era da linhagem de Israel (3.5). Ele não era um judeu apenas por adesão religiosa, mas judeu por direito de nascimento. Só os judeus podiam traçar sua descendência até Jacó, a quem Deus havia dado o nome de Israel. Chamando a si mesmo de israelita Paulo sublinha a pureza absoluta de sua raça e de sua descendência. Paulo pertencia ao povo eleito, o povo do concerto, o povo exclusivamente privilegiado (Ex 19.5,6; Nm 23.9; Sl 147.19,20; Am 3.2l Rm 3.1,2; 9.4,5). Porventura os judaizantes podiam com justiça reivindicar tal pureza genealógica para cada um de per si?

Em terceiro lugar, privilégio ancestral: ele era da Tribo de Benjamim (3.5). Benjamim foi o único filho de Jacó que nasceu na terra prometida. A tribo de Benjamim é uma das mais importantes, pois foi a única que se manteve fiel junto com a tribo de Judá à dinastia de Davi (1Rs 12.21). Dessa tribo procedeu o primeiro rei de Israel. Assim, Paulo não só está afirmando que era israelita, mas também que pertencia à elite de Israel. Essa foi sem sombra de dúvida a nobilíssima e a mais ilustre de todas as tribos de Israel.

2. Os méritos de Paulo (3.5,6)
Até agora Paulo havia listado o que ele tinha por direito de nascimento, agora, vai listar o que adquiriu por escolha sua.

Em primeiro lugar, ele era hebreu de hebreus (3.5). Essa expressão além de enfatizar que tinha puro sangue, denota os judeus que normalmente falavam aramaico entre si, e freqüentavam sinagogas em que se celebrava o culto em hebraico (bem diferentes dos helenistas, que só falavam o grego). Paulo falava a língua hebraica (At 21.40). Embora tenha nascido na cidade pagã de Tarso, foi para Jerusalém e foi criado aos pés de Gamaliel (At 22.3). Ele não era apenas um judeu helênico, mas um judeu atrelado à mais pura tradição judaica. Ralph Martin diz, outrossim, que este argumento é apresentado como prova de sua estrita ortodoxia, não maculada por nenhuma influência estrangeira (2Co 11.22).

Em segundo lugar, quanto à lei, ele era fariseu (3.5). Os fariseus constituíam o grupo mais zeloso pela lei e tradição da religião judaica. Ralph Martin diz que a principal característica da vida de um fariseu era a reputação de ser um cuidadoso e fervoroso cumpridor da lei mosaica, e suas tradições. O próprio nome fariseu significa “separado”. William Hendriksen diz que essa facção religiosa se originou durante o período intertestamentário em reação aos excessos dos judeus negligentes e indiferentes que se imbuíram do espírito helenista em seus aspectos insípidos. Assim, os fariseus ou separatistas vieram a separar-se dessas pessoas mundanas. Os fariseus não eram patriotas como os zelotes, nem radicais como os saduceus e nem políticos como os herodianos. Sua alta consideração pela Lei de Deus é digna de admiração. Essa seita do judaísmo tinha se separado da vida comum e das tarefas comuns para consagrar suas vidas à observância minuciosa dos detalhes da Lei. William Barclay diz que embora eles não fossem muitos, eram os corifeus espirituais do judaísmo. Paulo escolheu ser fariseu (At 23.6). Tornou-se extremamente zeloso da tradição de seus pais (Gl 1.14). Como fariseu pertenceu ao segmento mais severo da religião judaica (At 26.5).

O maior equívoco dos fariseus foi dar excessivo valor ao sistema legalista de interpretação que os escribas impuseram à lei, sepultando-a sob o peso de suas tradições (Mc 7.13). Essa falsa interpretação dos fariseus levou-os a se colocarem como inimigos de Cristo. Jesus os chamou de hipócritas e presunçosos (Mt 6.2,16; 23.5-7), néscios e cegos (Mt 23.16-22), serpentes e raça de víboras (Mt 23.33), sepulcros caiados (Mt 23.13,15,23,25,27,29).

Em terceiro lugar, quanto ao zelo, ele era perseguidor da igreja (3.6). Paulo era um judeu no seu sentido pleno, pela hereditariedade, pela cultura e pela religião. Mas, mais do que isso, ele se levantou com todas as forças da sua alma para combater a igreja de Cristo. Para o judeu a maior qualidade religiosa era o zelo (Nm 25.11-13). Um zelo ardente por Deus era o emblema de honra e o distintivo da religião judia. Paulo usou esse zelo para perseguir a igreja (At 9.1,2; 22.1-5; 26.9-15; 1Co 15.9; Gl 1.13).

Em quarto lugar, quanto à justiça que há na lei, ele era irrepreensível (3.6). Essa irrepreensibilidade não era moral, mas religiosa. A palavra grega usada por Paulo, amemptos traz a idéia de “culpar por pecados de omissão”. Assim, o que ele afirma é que não existe nenhuma exigência da Lei que tenha cumprido. Ele perseguia implacavelmente a igreja por zelo às convicções da sua fé.

IV. A SUBLIMIDADE DO EVANGELHO ESTABELECIDA (3.7-11)

1. O valor do Evangelho (3.7,8)
O apóstolo Paulo contrastando sua vida no judaísmo com sua experiência com Cristo, considerou como perda o que antes lhe parecia lucro. Ele era um genuíno israelita, de nobre nascimento, ortodoxo em sua crença e escrupuloso em sua conduta. Estava pronto a dar o seu sangue e derramar o sangue dos cristãos para agradar a Deus e chegar até a ele. Essas coisas, porém que foram anotadas, uma a uma, na coluna do crédito; agora passaram para a coluna do débito, e se converteram numa gigantesca perda. William Hendriksen ilustra essa verdade, assim:

A palavra perda, a qual Paulo usa nos versos 7 e 8, e em nenhuma outra parte de suas epístolas, ocorre em apenas outra passagem no Novo Testamento (At 27.10,21), na narrativa da viagem perigosa. E é exatamente essa mesma passagem que também indica como o lucro pode se reverter em perda. A mercadoria daquele navio, que navegava para a Itália, representava lucro potencial para os mercadores, para o proprietário e para os famintos do navio. Todavia, não fosse esse trigo lançado ao mar (At 27.38), muito provavelmente não só o navio, mas também todos os tripulantes acabariam em perda. Assim também a vantagem de se ter nascido num lar cristão e de se ter recebido uma maravilhosa e cristã educação doméstica, torna-se em desvantagem quando é considerada como base sobre a qual se constrói a esperança de vida eterna. O mesmo se pode dizer com respeito ao dinheiro, ao atrativo pessoal, à cultura, ao vigor físico, etc. Tais benefícios podem se reverter em entraves. Os degraus se transformarão em objetos de tropeço se forem usados erroneamente.

Quatro verdades devem ser destacadas a respeito do valor do evangelho.
Em primeiro lugar, a Pessoa de Cristo é mais importante do que os rituais religiosos (3.7). Os judaizantes estavam se gloriando na carne e centralizando a confiança deles para a salvação num rito físico. Mas tudo isso não tem nenhum valor para a salvação. Nossa confiança deve estar em Cristo e não em rituais. Se Paulo não tivesse renunciado ao demasiado valor que atribuía a esses privilégios e empreendimentos, eles o teriam privado de Cristo, o único lucro real (3.8).

Em segundo lugar, o conhecimento de Cristo não é apenas teórico, mas, sobretudo, um relacionamento íntimo e pessoal (3.8). Paulo considera seus privilégios e méritos na religião judaica como pura perda em virtude do seu relacionamento pessoal com Cristo, o senhor da sua vida. William Hendriksen diz: “Assim como o nascer do sol apaga a luz das estrelas, e assim como a presença de uma pérola de grande valor apaga o brilho das demais gemas, assim também a comunhão com Cristo eclipsa o brilho de todas as coisas”.

Em terceiro lugar, o amor a Cristo corrige nossas prioridades (3.8). Paulo não apenas abre mão de suas prerrogativas e vantagens, mas as considera como perda por amor a Cristo. O amor de Cristo o constrangeu e seu amor por Cristo o levou a renunciar tudo o que antes lhe parecia vantajoso.

Em quarto lugar, possuir a Cristo nos leva a ver as vantagens pessoais e religiosas como refugo (3.8). A palavra grega skybala usada por Paulo usa para “refugo” tem dois significados: Em linhagem comum significa “aquilo que era arrojado aos cães”; na linguagem médica significa “excremento, esterco”. Ralph Martin chega a dizer que o termo skybala é um termo tão vulgar para descrever excremento humano, ou restos de alimento destinados à lata de lixo, que o termo “esterco” ou “refugo” não conseguem expressar toda a sua repugnância. Assim, todos os privilégios cerimoniais, religiosos, do passado, são desdenhosamente jogados de lado, como lixo. O que os judaizantes têm em tão alta conta, o apóstolo considera ser de nenhum préstimo, senão como refugo, como algo que só servia para ser lançado aos cães.

2. O conteúdo do Evangelho (3.9)
O conteúdo do evangelho não é que fazemos para Deus, mas o que Deus fez por nós em Cristo. A palavra chave aqui é justiça. A igreja é um povo que foi justificado por Deus, por causa do sacrifício perfeito e cabal de Cristo na cruz. Destacamos aqui alguns pontos importantes:

Em primeiro lugar, a justificação é uma obra de Deus (3.9). Todas as nossas justiças são como trapos de imundícia aos olhos de Deus (Is 64.6). Deus é justo e não pode contemplar o mal. Ele não inocentará o culpado. A alma que pecar, essa morrerá. A Bíblia diz que todos pecaram. Não há justo nem um sequer. Mas, Deus enviou seu Filho como nosso substituto e fiador. Ele foi à cruz em nosso lugar. Quando estava pregado no madeiro, Deus fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós. Ele foi ferido de Deus e traspassado pelas nossas iniqüidades. Antes de render o seu espírito, Jesus deu um brado: “Está consumado”. Isso significa: está pago! Nossa dívida foi paga. A justiça perfeita de Cristo foi imputada a nós, ou seja, depositada em nossa conta. Por causa dos méritos do sacrifício de Cristo, Deus nos declara justos. Agora, portanto, não há mais nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo. Essa é a justiça de Deus imputada a nós.

William Hendriksen está coberto de razão quando afirma que enquanto uma pessoa se conserva apegada à sua própria justiça, mesmo num grau ínfimo, ela jamais desfrutará da plena justiça de Cristo. As duas não podem, de modo algum, andar juntas. É necessário que uma seja plenamente renunciada antes que a outra seja plenamente possuída.

Em segundo lugar, a justificação é por meio de Cristo (3.9). Deus justifica todo aquele que está em Cristo sem justiça própria, que procede de lei. Somos justificados pelos méritos de Cristo. Foi sua obra na cruz e não nossos esforços que nos garante a justificação. “Ser achado nele e ser justificado são uma e a mesma coisa”. Warren Wiersbe corretamente diz que há somente uma “boa obra” que pode levar o pecador para o céu: a obra que Cristo consumou na cruz (Jo 7.1-4; 19.30; Hb 10.11-14).

Em terceiro lugar, a justificação é recebida pela fé (3.9). A justificação é mediante a fé em Cristo. A fé não é a sua causa, mas o seu instrumento de apropriação. A relação justa com Deus não se baseia na Lei, mas na fé em Cristo Jesus; ninguém a conquista, Deus a dá; ninguém a ganha por obras, mas a aceita com confiança. Assim, o caminho da paz com Deus não é o caminho das obras, mas o caminho da graça.

3. A comunhão do Evangelho (3.10,11)
O evangelho é mais do que um punhado de verdades e dogmas, ele é uma pessoa. Ser cristão não é apenas ter na mente as doutrinas do cristianismo, mas ter um íntimo relacionamento com Cristo. Esse conhecimento não é apenas intelectual, mas, sobretudo, uma experiência pessoal. O verbo grego kinoskein “conhecer” usado por Paulo é o mesmo verbo hebraico yadá usado para relacionamento conjugal entre Adão e Eva (Gn 4.1). O nosso relacionamento com Cristo tem pelo menos três implicações:

Em primeiro lugar, implica na apropriação do poder da vida sobre a morte (3.10). Se o amor de Deus fica demonstrado de modo supremo na morte de Cristo (Rm 5.8), o poder de Deus fica demonstrado de modo supremo na ressurreição de Cristo. Paulo diz que o mesmo poder que ressuscitou a Jesus dentro dos mortos está à nossa disposição. Não lidamos apenas com gloriosas verdades antigas, mas lidamos também com um poder sempre vivo, dinâmico e atual. William Barclay diz que a ressurreição de Cristo é garantia de que esta vida é digna de ser vivida e de que para Deus o corpo físico é sagrado; que a morte não é o fim; e que nada na vida ou na morte pode nos separar de Cristo.

Em segundo lugar, implica na capacitação para enfrentar o sofrimento e a morte (3.10). Se, num certo plano, Paulo partilhou o poder do Cristo ressurreto, noutro plano o apóstolo partilhou seus sofrimentos. Sofrer por Cristo é um privilégio (1.29). Paulo estava na prisão, aguardando a sua sentença. Ele não era um masoquista que gostava de sofrer nem um eremita que via o sofrimento como meritório. Ao contrário, por causa de sua comunhão com Cristo, ele conhecia o poder da vida e também estava pronto a enfrentar o sofrimento da morte. Sofrer pela fé não é motivo de tristeza, mas de gozo inefável.

Em terceiro lugar, implica na gloriosa expectativa da vida futura (3.11). Essa palavra de Paulo não deve ser vista como uma dúvida ou tímida esperança. Antes da ressurreição vem a morte; antes da alegria vem o choro; antes dos montes alcantilados vêm os vales.

Antonio Cesar Neves Cavalheiro, Diácono da 1º Igrja Presbiteriana Renovada de Campinas-SP

domingo, 24 de maio de 2009

COMO SER UM CRENTE CHEIO DO ESPÍRITO SANTO

Referência: Efésios 5.18-21

INTRODUÇÃO

• Paulo, nesta cessão prática, falou sobre a unidade e a pureza da igreja. Agora, vai falar sobre novos relacionamentos. No restante da carta, ele concentra-se em mais duas dimensões do viver cristão.
• A primeira diz respeito aos relacionamentos práticos (lar e trabalho) e a segunda dimensão diz respeito ao inimigo que enfrentamos. Essas duas responsabilidades (o lar e o trabalho de um lado, e o combate espiritual do outro) são bem diferentes entre si. O marido e a esposa, os pais e os filhos, os senhores e os servos são seres humanos visíveis e tangíveis, ao passo que o diabo e suas hostes dispostos a trabalhar contra nós são seres demoníacos, invisíveis e intangíveis. Nossa fé deve estar à altura dessas duas dimensões.
• Paulo introduz essas duas dimensões com um imperativo e quatro particípios: enchei-vos + falando + louvando + dando graças + submetendo.

A IMPORTÂNCIA DA PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO

1. Seria impossível exagerar a importância que o Espírito Santo exerce em nossa vida: Paulo já falou que somos selados pelo Espírito (1:13-14) e que não devemos entristecer o Espírito (4:30). Agora nos ordena a sermos cheios do Espírito (5:18).
2. É o Espírito Santo que nos convence do pecado. É ele que opera em nós o novo nascimento. É ele quem nos ilumina o coração para entendermos as Escrituras. É ele quem nos consola e intercede por nós com gemidos inexprimíveis. É ele quem nos batiza no corpo de Cristo. É ele quem testifica com o nosso Espírito que somos filhos de Deus. É ele quem habita em nós.
3. Todavia, é possível ser nascido do Espírito, ser batizado com o Espírito, habitado pelo Espírito, selado pelo Espírito e estar ainda sem a plenitude do Espírito. Nós que já temos o Espírito, que somos batizados no Espírito, devemos agora, ser cheios do Espírito.

I. DUAS ORDENS – UMA NEGATIVA, OUTRA POSITIVA

• Embriaguez ou enchimento do Espírito? O apóstolo começa fazendo uma certa comparação entre a embriaguez e a plenitude do Espírito.

1. A semelhança superficial
• Uma pessoa que está bêbada, dizemos, está sob a influência do álcool; e certamente um cristão cheio do Espírito está sob a influência e sob o poder do Espírito Santo.
• Em ambas as proposições, há uma mudança de comportamento: a personalidade da pessoa muda quando ela está bêbada. Ele se desinibe; não se importa com o que os outros pensam dela. Abandona-se aos efeitos da bebida! O crente cheio do Espírito se entrega ao controle do Espírito e sua vida fica livre e desinibida.

2. O contraste profundo
• Na embriaguez o homem perde o controle de si mesmo; no enchimento do Espírito ele não perde, ele ganha o controle de si, pois o domínio próprio é fruto do Espírito.
• O Dr. Martyn Lloyd-Jones, médico e pastor disse: “O vinho e o álcool, farmacologicamente falando não é um estimulante, é um depressivo. O álcool sempre está classificado na farmacologia entre os depressivos. O álcool é um ladrão de cérebros. A embriaguez deprimindo o cérebro tira do homem o autocontrole, a sabedoria, o entendimento, o julgamento, o equilíbrio e o poder para aquilatar. Ou seja, a embriaguez impede o homem de agir de maneira sensata.
• O que o Espírito Santo faz é exatamente o oposto. Ele não pode ser colocado num manual de Farmacologia, mas ele é estimulante, anti-depressivo. Ele estimula a mente, o coração e a vontade.

3. O resultado oposto
• O resultado da embriaguez é a dissolução (asotia). As pessoas que estão bêbadas entregam-se a ações desenfreadas, dissolutas e descontroladas. Perdem o pudor, perdem a vergonha, conspurcam a vida, envergonham o lar. Trazem desgraças, lágrimas, pobreza, separação e opróbrio sobre a família. Buscam uma fuga para os seus problemas no fundo de uma garrafa, mas o que encontram é apenas um substituto barato, falso, maldito e artificial para a verdadeira alegria. A embriaguez leva à ruína. Ilustração: a lenda do vinho feito da mistura do sangue do pavão, leão, macaco e porco.
• Todavia, os resultados de estar cheio do Espírito são totalmente diferentes. Em vez de de nos aviltarmos, embrutecermos, o Espírito nos enobrece, nos enleva e eleva. Torna-nos mais humanos, mais parecidos com Jesus. O apóstolo agora, alista os quatro benefícios de se estar cheio do Espírito Santo.

II. OS BENEFÍCIOS DO ENCHIMENTO DO ESPÍRITO SANTO

1. Comunhão – v. 19a - “falando entre vós com hinos e cânticos espirituais”
• Este texto nos fala da comunhão cristã. O crente cheio do Espírito não vive resmungando, reclamando da sorte, criando intrigas, cheio de amargura, inveja e ressentimento, mas sua comunicação é só de enlevo espiritual para a vida do irmão.
• O enchimento do Espírito é remédio de Deus para toda sorte de divisão na igreja. A falta de comunhão na igreja é carnalidade e infantilidade espiritual (1 Co 3:1-3).
• O contexto aqui é a comunhão na adoração. No culto público, o crente cheio do Espírito Santo edifica o irmão, é bênção na vida do irmão. Salmo 95:1 “Vinde, cantemos ao Senhor, com júbilo, celebremos o rochedo da nossa salvação”. É um convite recíproco ao louvor!

2. Adoração – v. 19 – “entoando e louvando de coração ao Senhor”
• Aqui, o cântico não é entre vós, mas sim, ao Senhor. Não é adoração fria, formal, apagada, morta, sem entusiasmo, sem vida.
• O crente cheio do Espírito adora a Deus com entusiasmo. Usa toda a sua mente, emoção e vontade. Um culto vivo não é carnal nem morto. Não é barulho, misticismo nem emocionalismo. Não é experiencialismo, mas um culto em espírito e em verdade, um culto cristocêntrico, alegre, reverente, vivo.

3. Gratidão – v. 20 – “dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai...”
• O crente cheio do Espírito está cheio não de queixas, de murmuração, mas de gratidão.
• Embora o texto diga que devemos dar graças sempre por tudo, é necessário interpretar corretamente este versículo.
a) Não podemos dar graças por tudo como por exemplo, pelo mal moral. Uma noção estranha está conquistando popularidade em alguns círculos cristãos de que o grande segredo da liberdade e da vitória cristãs é o louvor incondicional: que o marido deve louvar a Deus pelo adultério da esposa; que a esposa deve louvar a Deus pela embriaguez do marido; que os pais devem louvar a Deus pelo filho que foi para as drogas e pela filha que se perdeu.
b) Semelhante sugestão é uma insensatez e uma blasfêmia. Naturalmente, os filhos de Deus aprendem a não discutir com Deus nos momentos de sofrimento, mas sim, a confiar nele e, na verdade, dar-lhe graças pela sua amorosa providência mediante a qual ele pode fazer até mesmo o mal servir aos seus bons propósitos (Gn 50:20; Rm 8:28).
c) Mas, isso, é louvar a Deus por ser Deus e não louvá-lo pelo mal. Fazer assim, seria reagir de modo insensível à dor das pessoas (ao passo que a Bíblia nos manda a chorar com os que choram). Fazer assim seria desculpar e até encorajar o mal (ao passo que a Bíblia nos manda odiá-lo e resistir o diabo).
d) O mal é uma abominação para o Senhor e não podemos louvá-lo ou dar-lhe graças por aquilo que ele abomina. Logo, o tudo pelo qual devemos dar graças deve ser qualificado pelo seu contexto, a saber a nosso Deus e Pai, em nome do Senhor Jesus Cristo. Nossas ações de graças devem ser por tudo o que é consistente com a amorosa paternidade de Deus.

4. Submissão – v. 21 – “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”
• Uma pessoa cheia do Espírito não pode ser altiva, arrogante, soberba. Os que são cheios do Espírito Santo têm o caráter de Cristo, são mansos e humildes de coração.
• Em Cristo devemos ser submissos uns aos outros. Esse verso 21 é um versículo de transição, e forma a ponte entre as duas seções deste capítulo. Não devemos pensar que a submissão que Paulo recomenda às esposas, às crianças e aos servos seja outra palavra para inferioridade. Igualdade de valor não é identidade do papel.
• Duas perguntas devem ser feitas: 1) De onde vem a autoridade? Como essa autoridade deve ser exercida?
• 1) A autoridade vem de Deus - Por trás do marido, do pai, do patrão, devemos discernir o próprio Senhor que lhes deu a autoridade que têm. Portanto, se querem submeter a Cristo, submetam-se a eles. Mas a autoridade dos maridos, pais e patrões não é ilimitada nem as esposas, filhos e empregados devem prestar obediência incondicional. A autoridade só é legítima quando é exercida debaixo da autoridade de Deus e em conformidade com ela. Devemos obedecer a autoridade humana até o ponto em que não sejamos levados a desobedecer a autoridade de Deus. Se a obediência à autoridade humana envolve a desobediência a Deus, naquele ponto, a desobediência civil fica sendo o nosso dever cristão: “Ants importa obedecer a Deus que aos homens (At 5:29).
• 2) Nunca deve ser exercida de modo egoísta, mas, sim, sempre em prol dos outros para cujo benefício foi outorgada – Quando Paulo descreve os deveres dos maridos, dos pais e dos senhores, em nenhum caso é a autoridade que os manda exercer. Pelo contrário, explícita ou implícitamente, adverte-os contra o uso impróprio da autoridade, proíbe-os de explorar a sua posição, e os conclama, ao invés disso, a lembrar-lhes das suas responsabilidades e dos direitos da outra parte. Assim sendo, os maridos devem amar, os pais não devem provocar a ira e os patrões devem tratar os servos com justiça. Jesus foi o supremo exemplo de como deve ser exercida a autoridade. Como Senhor ele serviu.
• Um marido cheio do Espírito Santo ama a esposa como Cristo ama a igreja. Uma esposa cheia do Espírito se submete ao marido como a igreja a Cristo. Pais cheios do Espírito criam os filhos na admoestação do Senhor. Filhos cheios do Espírito obedecem seus pais. Patrões cheios do Espírito tratam seus empregados com dignidade. Empregados cheios do Espírito trabalham com empenho em favor dos seus patrões.

III. O IMPERATIVO DO ENCHIMENTO DO ESPÍRITO SANTO

• A forma exata do verso “Plerouste”é sugestiva por várias razões.

1. Está no modo imperativo
• “Enchei-vos” não é uma proposta alternativa, uma opção, mas um mandamento de Deus. Ser cheio do Espírito é obrigatório, não opcional. Não ser cheio do Espírito Santo é pecado. Ilustração: O diácono na Igreja Batista do Sul dos EUA excluído da igreja por embriaguez. Billy Graham perguntou: algum diácono já foi excluído por não ser cheio do Espírito Santo?

2. Está na forma plural
• Esta ordem está endereçada à totalidade da comunidade cristã. Ninguém dentre nós deve ficar bêbado; todos nós porém, devemos encher-nos do Espírito Santo. A plenitude do Espírito Santo não é um privilégio elitista, mas sim uma possibilidade para todo o povo de Deus. A promessa do derramamento do Espírito rompeu as barreiras social, da idade e do sexo.

3. Está na voz passiva
• O sentido é: “Deixai o Espírito encher-vos”. Ninguém pode encher-se a si mesmo do Espírito. Nenhum homem pode soprar sobre o outro para que ele receba a plenitude do Espírito.
• O sentido não é o quanto mais nós temos do Espírito, como se o Espírtio fosse um líquido enchendo um vazilhame. Mas o quanto mais o Espírito tem de nós. O quanto ele controla a nossa vida. Ser cheio é não entristecê-lo, nem apagá-lo, mas submeter-se à sua autoridade, influência e poder.

4. Está no tempo presente contínuo
• No grego há dois tipos de imperativo: 1) Um aoristo – que descreve uma ação única. Exemplo: João 2:7 Jesus disse: “Enchei dágua as talhas”. O imperativo é aoristo, visto que as talhas deviam ser enchidas uma só vez. 2) Um presente contínuo – descreve uma ação contínua. Exemplo: Efésios 5:18 Quando Paulo nos diz: “Enchei-vos do Espírito” é imperativo presente, o que subentende que devemos continuar ficando cheios.
• A plenitude do Espírito não é uma experiência de uma vez para sempre, que nunca podemos perder, mas sim, um privilégio que deve ser continuamente renovado pela submissão à vontade de Deus. Fomos selados de uma vez por todas, mas temos a necessidade do enchimento diariamente.

CONCLUSÃO

• Você é um crente cheio do Espírito Santo? Os sinais da plenitude do Espírito têm sido vistos em sua vida?
• Você tem adorado a Deus, relacionado com seus irmãos, agradecido a Deus e se sujeitando uns aos outros e feito a obra de Deus com poder?
• Ilustração: o moço de Eliseu que perdeu o machado no rio. Eliseu orou e o machado boiou. Muitos hoje estão tentando cortar as árvores com o cabo do machado. Precisamos mais dos recursos de Deus do que dos recursos do homem. A igreja primitiva quando ficou cheia do Espírito Santo tornou-se uma força invencível!

terça-feira, 19 de maio de 2009

POR QUE DEVEMOS PERDOAR?

PERDÃO, A FAXINA DA ALMA

O perdão é a cura das memórias, a assepsia do coração, a faxina da alma. O perdão é uma necessidade vital e uma condição indispensável para termos uma vida em paz com Deus, com nós mesmos e com o próximo. Uma vez que somos falhos e pecadores, estamos sujeitos a erros. Por essa razão, temos motivos de queixas uns contra os outros. As pessoas nos decepcionam e nós decepcionamos as pessoas.

É impossível termos uma vida cristã saudável sem o exercício do perdão. Quem não perdoa não pode adorar a Deus nem mesmo trazer sua oferta ao altar. Quem não perdoa tem suas orações interrompidas e nem mesmo pode receber o perdão de Deus. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. Quem não perdoa é entregue aos verdugos da consciência. O perdão, portanto, não é uma opção para o crente, mas uma necessidade imperativa.

O perdão é uma questão de bom senso. Quando nutrimos mágoa no coração, tornamo-nos escravos do ressentimento. A amargura alastra em nós suas raízes e produz dois frutos malditos: a perturbação e a contaminação. Uma pessoa magoada vive perturbada e ainda contamina as pessoas à sua volta. Quando guardamos algum ranço no coração e nutrimos mágoa por alguém, acabamos convivendo com essa pessoa de forma ininterrupta. Se vamos descansar, essa pessoa torna-se o nosso pesadelo. Se vamos nos assentar para tomar uma refeição, essa pessoa tira o nosso apetite. Se nosso propósito é sair de férias com a família, essa pessoa pega carona conosco e estraga as nossas férias. Por essa razão, perdoar não é apenas uma questão imperativa, mas, também, uma atitude de bom senso. O perdão alivia a bagagem, tira o fardo das costas e terapeutiza a alma.

Mas, o que é perdão? Perdão é alforriar o ofensor. Perdoar é não cobrar nem revidar a ofensa recebida. O perdão não exige justiça; exerce misericórdia. O perdão não faz registro das mágoas. Perdoar é lembrar sem sentir dor.

Até quando devemos perdoar? A Bíblia nos diz que devemos perdoar assim como Deus em Cristo nos perdoou. Devemos perdoar de forma ilimitada e incondicional. Devemos perdoar não apenas até sete vezes, mas até setenta vezes sete.

Por que devemos perdoar? Porque fomos perdoados por Deus. Os perdoados precisam ser perdoadores. No céu só entra aqueles que foram perdoados; e se não perdoarmos, não poderemos ser perdoados. Logo, todo crente em Cristo precisa praticar o perdão.

Quem deve tomar iniciativa no ato do perdão? Jesus disse que se nos lembrarmos que nosso irmão tem alguma coisa contra nós, devemos ir a ele. Não importa se somos o ofensor ou o ofendido. Sempre devemos tomar a iniciativa, e isso com humildade e espírito de mansidão. Precisamos entender que o tempo nem o silêncio são evidências de perdão. É preciso o confronto em amor. Há muitas pessoas doentes emocionalmente porque não liberam perdão. Há muitas pessoas fracas espiritualmente porque não têm a humildade de pedir e conceder perdão. Precisamos quebrar esses grilhões, a fim de vivermos a plenitude da liberdade cristã.

O perdão é a manifestação da graça de Deus em nós. Se nos afastarmos de Deus, nosso coração torna-se insensível. Porém, se nos aproximarmos de Deus, ele mesmo nos move e nos capacita a perdoar assim como ele em Cristo nos perdoou.